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MÁRCIA MARIA MENENDES MOTTA

Atualizado: 16 de jul. de 2023



A gestão de Márcia Maria Menendes Motta na presidência da ANPUH (2019-2021) foi marcada pela resistência às políticas de desmonte do serviço público propostas pelo governo federal do período e pela intensificação da atuação da ANPUH em defesa da democracia, do estado de direito e do papel da produção e divulgação do conhecimento histórico como um instrumento de construção e fortalecimento da cidadania. Foi também um momento marcado pela pandemia do COVID-19, quando a comunidade de historiadores foi convocada a se colocar em combate pela vida e contra os diversos movimentos conservadores, como o “escola sem partido”, os negacionistas e os falsificadores da história.


Oriunda da classe média baixa da zona suburbana de Niterói, Marcia Maria Menendes Motta tornou-se uma das principais pesquisadoras da História Agrária no Brasil. Motta se destacou como docente do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), na qual ingressou em 1992. Além das atividades de ensino e administrativas, orientou dezenas de pesquisas de conclusão de curso de graduação, mestrado, doutorado e de pós-doutorado.


Após concluir o ensino médio e, na sequência, cursar História por um breve período na extinta Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE), em 1981, Motta ingressou no curso de graduação em História da UFF, onde foi aluna e assistente de pesquisa de vários de seus professores, entre os quais Maria Yedda Leite Linhares e Ronaldo Vainfas. Linhares viria a ser sua orientadora no mestrado também na UFF. A dissertação, intitulada “Pelas Bandas D'Além. Fronteira Fechada e Arrendatários-escravistas (1808-1888) ”, também deixava nítida a sua opção pela História Agrária.

A maternidade ocorreu concomitantemente ao trabalho como pesquisadora e à jornada como professora na FAHUPE e do quadro do magistério do Estado do Rio de Janeiro. Em 1991, Motta ingressou no curso de doutorado em História na UNICAMP, sob a orientação de Silvia Hunold Lara. Em 1996, quando se tornou mãe pela segunda vez, Motta defendeu sua tese, intitulada “Nas Fronteiras do Poder: Conflito de Terra e Direito Agrário no Brasil de meados do século XIX”. Publicada em 1998, a tese se destacou por propor uma nova interpretação envolvendo as leituras de agregados e posseiros sobre a Lei de Terras de 1850.


Desde então, suas publicações tornaram-se referências para a compreensão do mundo rural brasileiro, em especial sobre a história social da agricultura e da propriedade. Além da marcante influência da Nova Esquerda Britânica e da chamada Escola Jacobina Francesa, Motta inspira-se na produção artística nacional de Ariano Suassuna, na produção musical do “Clube da Esquina”, de Luiz Melodia e de tantos outros.


Em relação à sua vasta produção, cabe ressaltar, primeiramente, o "Dicionário da Terra", publicado em 2005. Trata-se de uma obra que é fruto da contribuição de diversos pesquisadores, professores e militantes do e sobre o universo rural brasileiro. A publicação ficou em 2º lugar na edição do Prêmio Jabuti, em 2006. Em 2012 publicou o livro “O Direito à Terra no Brasil. A gestação do conflito (1795/1822)", que aborda o sistema de sesmarias português implantado no Brasil. Em 2014, sua tese para a ascensão ao cargo de Professora Titular da UFF veio a público sob o título “O Rural à la Gauche: campesinato e latifúndio nas interpretações de esquerda (1955-1996)”. O livro apresenta uma análise de interpretações sobre o mundo rural brasileiro elaboradas por intelectuais identificados como comunistas ou do campo da esquerda.


Outra característica marcante de Motta é a sua habilidade em congregar e fomentar a execução de estudos em rede envolvendo pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Motta agrega pesquisadores envolvidos na temática da propriedade no mundo ibérico, preocupada em dar visibilidade às investigações em língua portuguesa e espanhola, muitas vezes sublimada pela importação acrítica da produção acadêmica dos grandes centros de pesquisa estadunidense e europeus. É digno de registro a criação, em 2012, da Rede Proprietas, que visa investigar e desnaturalizar a propriedade em suas mais diferentes dimensões. Em 2016, a Rede Proprietas foi transformada em INCT – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, projeto internacional: História Social das Propriedades e Direitos de Acesso. O INCT recebeu financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), CNPq, Capes, BNDES, FAPERJ, FAPEMA e Fundação Araucária.


Atualmente, Motta é pesquisadora do CNPq e do programa Cientista do Nosso Estado (CNE – FAPERJ) e professora titular em História Moderna e Contemporânea e do PPGH em História da UFF. Além disso, mantém-se atuante na luta pela defesa da democracia, da universidade pública e gratuita e de políticas que visem a diminuição das desigualdades em nosso país, em especial no mundo rural brasileiro.


Em defesa da robusteza e complexidade da produção histórica nacional, Motta acredita que a História do país há de se tornar um fio condutor incontornável para um projeto de Brasil, mais agregador e menos desigual.


Marcos Nestor Stein

Docente do Curso de Graduação em História e do PPGH da UNIOESTE.

Pesquisador do INCT Proprietas: História Social da Propriedade e Direitos de Acesso

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2623-0686


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