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  • Foto do escritorSecretaria da ANPUH

ISMÊNIA DE LIMA MARTINS

Atualizado: 17 de jul. de 2023


Ismênia de Lima Martins teve dificuldades para se tornar docente no ensino superior. No ano de 1967, o acesso ao magistério universitário dava-se apenas por convite do catedrático e aprovação do colegiado. Mesmo indicada pelo Prof. Antonio Quaresma, responsável pela área de Brasil, seu nome não foi aprovado, pois tinha fama de criticar e constranger os professores! Ingressou, dois anos após, por ocasião da primeira seleção pública e, posteriormente, foi aprovada, em 1º lugar, no concurso público, onde todos os docentes foram inscritos ex-officio, inclusive, seus ex-professores!


Foi a primeira professora-bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no Programa de Pós-graduação de História Social/UFF (PPGHS/UFF), que coordenou e onde fundou o Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF) e o Núcleo de Imigração e Cidadania (NEMIC), que se tornou, também, um GT da ANPUH.


Presidente da ANPUH entre 1995-1997, privilegiou duas linhas de ação. A primeira seria torná-la uma associação verdadeiramente nacional e representativa dos profissionais de História e, não apenas, dos docentes universitários. A segunda tratou da promoção da abertura da ANPUH às demandas da sociedade.


A primeira proposta justificava-se pela extinção de alguns núcleos estaduais como Paraná e Rio Grande do Sul e pelo fato de que muitos outros se apresentavam, praticamente, desativados. Tal situação originou-se da cisão liderada por Cecília Maria Westphalen, que se opunha à abertura da entidade para profissionais de História de outros níveis, tendo criado, em agosto de 1981, a Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica (SBPH). A ANPUH permanecia fortalecida apenas em São Paulo, e resistindo no Rio de Janeiro e Minas Gerais.


Considerando as dificuldades de comunicação do período, sem e-mail e whatsapp, Ismênia priorizou a região Sul pela importância de sua malha universitária, devida, não apenas, ao destaque das Instituições Federais, mas, também, à pujança das Universidades Estaduais. Visitou vários estabelecimentos e firmou parcerias com diversos colegas, sobretudo das gerações mais novas, destacando-se o apoio dos professores do Rio Grande do Sul, o primeiro núcleo recriado. Viajou, também, para o Nordeste contando com o apoio da Professora Rosa Godoy, Pró-Reitora da UFPB, visitando diferentes campus de Campina Grande a João Pessoa. Além destes esforços que permitiram a recriação e a revitalização dos núcleos, tornou obrigatória a inscrição para os congressos nacionais através do núcleo de origem do pretendente, medida que assegurou o fortalecimento das associações estaduais.


A abertura da ANPUH aos colegas de outros níveis, já iniciada no biênio anterior, foi, igualmente, prioridade em sua gestão e como afirma “contou com o apoio de sua Diretoria, particularmente, de John Monteiro”. O fortalecimento dos núcleos regionais, as transformações da própria disciplina, e a visibilidade social alcançada pela ANPUH, provocaram entre 1994 e 1995, um grande debate sobre o gigantismo da entidade, que culminou na Assembleia Geral da ANPUH, quando opositores alegavam que aquele processo redundaria na perda da qualidade acadêmica.


Ismênia, recém eleita, naquela oportunidade, defendeu a posição de que o Simpósio Nacional da ANPUH, realizado a cada dois anos, constituía-se em um momento privilegiado de socialização da produção universitária, junto às redes escolares regionais e a sociedade local, configurando-se no mais importante evento de nossa área. Os Simpósios estaduais realizados, em biênios alternados, pelos núcleos regionais, permitiriam a verticalização de tais esforços.


Em sua gestão, realizou-se o XVIII Encontro Nacional da ANPUH, em Belo Horizonte, com mais de 4000 mil inscritos. Como relembra a Prof. Ismênia: “em meu discurso de abertura deixei claro o compromisso da ANPUH, com todos os profissionais de História e que o alegado gigantismo não significava uma perda de qualidade e sim o fortalecimento de nossa Associação!... A organização do evento era dificultada pelas inscrições individuais que exigiam um esforço para integrá-las em sessões. Na Assembleia Geral, de acordo com as diretrizes do próximo presidente, Prof. Edgar de Decca, aprovou-se uma nova estrutura baseada em Simpósios e Grupos Temáticos, mantendo-se os Cursos que funcionavam como uma oportunidade ímpar para o encontro entre professores da rede de ensino básico e universitário”. No seu sentido de luta e otimismo, a Prof. Ismênia sublinha: “não tenho dúvidas de que estávamos na direção acertada. Já tivemos Encontros que ultrapassaram os 7 mil inscritos. A nova estrutura de STs e GTs faz da ANPUH [se constituir de] grandes encontros acadêmicos”.


A abertura da ANPUH às demandas sociais justificava-se pelas profundas transformações teórico-metodológicas da disciplina. Além disso, a produção historiográfica no Brasil tinha se revolucionado colocando na cena principal os operários, as mulheres, os povos originários, migrantes, o cotidiano, etc., e era impossível, segundo o entendimento de Ismênia, que a entidade maior dos historiadores estivesse ausente dos embates políticos do seu tempo, sobretudo àqueles relacionados ao ofício e aos seus grandes temas.


Neste sentido, ao ser convidada a integrar o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), como historiadora, propôs que a vaga se tornasse institucional, e a ANPUH passou a ter um representante permanente neste conselho até as alterações político-governamentais do pós-2019. Da mesma forma, a ANPUH se integrou aos debates sobre a regulamentação das terras de quilombo, exigindo sua participação na Audiência Pública sobre a Disposição Transitória da Constituição de 1988, uma vez que só era prevista, inicialmente, a presença da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Os debates se desdobraram na imprensa e a produção acadêmica dos historiadores, a par da militância, os tornaram referências na temática.

Ismênia foi agraciada pela ANPUH, com a distinção de sócia Emérita. Além disso, recebeu inúmeros prêmios, sendo o mais recente a Medalha Chiquinha Gonzaga, honraria instituída pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, objetivando homenagear personalidades femininas, reconhecidamente destacadas nas lutas em prol das causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais, no âmbito da União, Estados e Municípios.


Ismênia dedicou-se, também, à gestão pública e acadêmica, tendo ocupado várias posições na UFF, como Coordenadora do PPGH e Pró-Reitora, mas, igualmente, na administração municipal, estadual e nacional. Foi diretora-geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) entre janeiro de 2003 e julho de 2004, e Coordenadora de Editoração e Acervo da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) de 2005 a 2007. Coordenou, entre outros, o Projeto “Estrangeiros no Brasil”, com apoio do BNDES. Foi membro da Comissão de Altos Estudos do Programa Memórias Reveladas da Casa Civil da Presidência da República. Participou do Conselho Editorial de importantes periódicos nacionais e internacionais na área de História e afins. Igualmente, compõe o quadro de várias entidades Nacionais e Estrangeiras, além da ANPUH.


Ismênia é professora emérita da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na pesquisa, dedica-se aos temas da imigração, gênero, história regional e local, com ênfase na região fluminense. Graduada em História pela UFF (1967), doutora em História Social pela USP (1973), participou do Programa de Pós-Doutorado CAPES-COFECUB junto à EHESS-Paris (1988-1990).

No transcorrer de sua carreira acadêmica tem publicado inúmeros artigos em periódicos nacionais e internacionais, organizado e/ou editado diversos livros e capítulos de livros. Dentre outros: “Portugueses no Brasil” (2006), “Emigração portuguesa para o Brasil” (2007), “D. João VI e a Biblioteca Nacional: Um legado em papel” (2008), “E/Imigrações: histórias, culturas, trajetórias” (2010), “As mulheres médicas nas entrelinhas do centenário da Faculdade de Medicina da UFMG” (2011), “E/Imigrações: questões e inquietações” (2013), “O oitocentos sob novas perspectiva” (2014), “Mulher e Ciência: Trajetórias de Cientistas” (2021), “D. João VI: um Rei e muitas controvérsias”(2022).


Beatriz Kushnir Doutora em História/Unicamp, ex-diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (2005-20), professora do Ppgarq/UniRio



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