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ANGELA DE CASTRO GOMES | COMO VOTA A COMUNIDADE HISTORIADORA?

Estou tão aflita, mas tão aflita, que imaginei ser impossível conseguir escrever sobre qualquer assunto, inclusive sobre como voto nessas eleições absolutamente, completamente e realmente históricas. Bem, eu voto, mais uma vez, no LULA. E ele tem que vencer. Tem que vencer. 13. Não há caso contrário.


A escolha entre autoritarismo e democracia é por demais evidente e eu levei boa parte de minha vida adulta pensando, estudando, escrevendo, dando aulas, enfim, lutando das maneiras possíveis, para mim, pela democracia. Em 1968 tinha 20 anos, estava cursando História na UFF e os tempos não eram nada felizes. E continuaram assim por muito tempo. Votei, para presidente da República, pela primeira vez, depois que Constituição de 1988 foi promulgada. Mesmo ano em que defendi minha tese de doutorado, que, não casualmente, pensava os rumos da cidadania e da democracia no Brasil. Façam as contas... E gritei muito nas ruas que queria Diretas já! Quero votar pra presidente! Enfim, só em 1989 votei. Eu, então, tinha duas filhas e já era professora da UFF, pois pude fazer concurso público após a Lei da Anistia.


Desde então, continuei votando e me sentindo vitoriosa, mesmo quando meu candidato não vencia o pleito. O mais importante, fundamental, decisivo, vital era haver eleições, instituições, procedimentos democráticos. Democracia é conceito dificílimo, polissêmico etc. Eu sei. Só que democracia pode ser também algo que se sente na pele e no coração. E aí a gente entende do que se trata. Democracia rima com dignidade humana e todo ser humano tem dignidade e merece viver numa democracia.


A exceção, nessas muitas eleições, foi 2018, quando soube – eu e um montão de gente – que a democracia estava em risco e iria ser atacada e, se possível, aniquilada. De novo. E, de fato, ela foi, continuou sendo e, agora, arrisca de entrar em coma irreversível. Eu não tenho mais 20 anos, mas sinto o mesmo desespero, embora minhas possibilidades sejam outras. Por isso, estou tão aflita, mas tão aflita, que é melhor parar de escrever. Já deixei claro que estou na luta pela democracia.


Angela de Castro Gomes é Professora Titular da UFF; Professora Emérita do CPDOC/FGV; Pesquisadora Visitante no PPGH da UNIRIO.

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