Tenho muitos motivos para voltar em Lula, mas quero dedicar esse voto a luta em defesa dos povos da floresta. Digo isso com a convicção de quem vive na Amazônia, uma região quase sempre lembrada pelos seus recursos florestais, suas terras férteis, rios caudalosos, ou ainda como “celeiro do mundo”. Se por um lado a abundância florestal é ressaltada, pouco se fala das pessoas, do conhecimento construído ao logo dos séculos pelas populações que ocupam essa região, e que são marcadas pela diversidade de experiências em lidar com as matas.
As eleições de 2022, colocam em pauta a floresta e os seus povos. Estamos diante de um projeto de continuidade de uma política que amplia o caminho para o desmatamento, invasão e a grilagem de terras, principalmente de comunidades indígenas e quilombolas. A defesa da expansão da produção agrícola, criação de gado e o desflorestamento sobre áreas de conservação ambiental, permitiu que atual presidente fosse chamado, inclusive, de “capitão motor serra”. O que não dizer ainda dos ataques a fiscalização ambiental, que inviabilizou um combate a invasores garimpeiros que exercem a garimpagem em terras indígenas, ou a extração ilegal de madeira. Soma-se as queimadas criminosas, a violência aos pequenos plantadores e pescadores ribeirinhos, o aumento da pobreza que tem levado famílias a migrar para os centros urbanos das principais cidades da região, o que coloca essas pessoas em condições de miséria e exposição da violência nas cidades.
Se observa que o governo federal tem avançado sistematicamente na agenda dos “ruralistas”, no caso, grandes proprietários e seus representantes. As interferências constantes nas ações de fiscalização e controle dos órgãos ambientais, a aprovação de novos agrotóxicos para uso no Brasil, muitos deles proibidos na Europa e América do Norte, corte de verbas governamentais para proteção ambiental, enfraquecimento do sistema de monitoramento e combate aos crimes ambientais, redução significativa da aplicação de multas, críticas às agências de pesquisa e monitoramento florestal e emissão de decretos e portarias que inibem os esforços de fiscalização de violações ambientais e combate ao desmatamento, queimadas, invasão de terras e mineração ilegal são algumas das muitas ações deste governo, que o coloca como agente destruidor da floresta e dos povos da Amazônia.
Votar em Lula significa, portanto, barrar esse projeto de destruição que alinha o governo federal aos interesses dos latifundiários, grileiros e garimpeiros, em torno da abertura das terras indígenas e quilombolas, por exemplo, para mineração, barragens e agronegócio. A nosso desafio é atuar, nesta eleição, em defesa de um projeto que permita integrar o desenvolvimento econômico com proteção dos recursos naturais. Acredito que o governo Lula é a segurança da manutenção das unidades de conservação ambiental, da continuidade da demarcação das terras indígenas e quilombolas, do combate ao desmatamento e a proteção aos povos da floresta.
Francivaldo Alves Nunes é professor Associado na Universidade Federal do Pará, atuando na graduação em História e pós-graduação em “História Social da Amazônia” e “Ensino de História”.
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