Qual o maior problema do Brasil?
Em minha opinião de historiadora, professora, feminista e cidadã, o maior problema do Brasil é a desigualdade social. Ela está atravessada por diferentes aspectos: as questões de classe social, de raça e etnia, de gênero, orientação sexual, deficiência, religião e regionalidades, entre outros. E é fruto de uma história de escravidão, colonialismo e ditadura. Neste momento de eleições, cabe a cada um decidir qual dos candidatos propõe soluções para este problema, que está na raiz de tantos outros.
A fome que atinge 33 milhões de brasileiros hoje é causada por essa desigualdade, em uma sociedade em que algumas pessoas são bilionárias, e outras não tem o mínimo para comer. Mas estes 33 milhões de pessoas são majoritariamente pessoas negras ou de povos originários, e certamente, mulheres e crianças. Esta fome não é algo novo no Brasil, mas durante os anos de governo de Lula e Dilma, tinha sido muito diminuída, graças a programas que aliavam renda mínima com escola e merenda escolar, e desenvolvimento econômico e outros investimentos em regiões vulneráveis. Esta fome não vem da pandemia, ela vem da falta de investimento na educação, na saúde, na falta de cuidado com as pessoas mais vulneráveis no país.
A violência é outro grande problema, e tem diversas faces. Tem a face do tráfico de drogas que atrai jovens que não têm alternativas. Tem a face da polícia que atira sem perguntar, especialmente em jovens negros. Tem a face da milícia, cada vez mais armada – agora com armas compradas legalmente no país. Tem a face da violência doméstica e do feminicídio, reforçada por políticas e discursos de um governo que apoia a hierarquia patriarcal e a submissão das mulheres. Tem a face da homofobia, da transfobia, do racismo e do assédio.
O acesso à saúde, o grande projeto de nosso Sistema Único de Saúde, tem sido sistematicamente sabotado pelo governo atual, por uma política de contenção de recursos para a saúde, em um dos períodos em que ela foi mais solicitada na história, e por processos de corrupção envolvendo agentes públicos e o próprio executivo. Este acesso é extremamente desigual, e durante os últimos anos, foi responsável por quase setecentas mil mortes por Covid, sem falar em muitas outras mortes.
A educação, que poderia ser um instrumento revolucionário para combater a desigualdade, e que nos governos Lula e Dilma, teve investimentos muito significativos na criação de Institutos Federais, Universidades, aplicação de recursos na educação básica e leis de cotas aliadas a políticas de permanência, que justamente tentavam diminuir as diferenciações sociais e raciais, se encontra em abandono.
A ciência e a tecnologia, que durante aqueles governos, teve um lugar no orçamento, com editais constantes e frequentes para pesquisas, investimentos nas universidades e institutos de pesquisa, bolsas para programas de pós-graduação, para estágios no exterior, para formação, viveram anos difíceis.
A corrupção é também um problema brasileiro, causado talvez não tanto pela desigualdade, diretamente, mas por uma elite que se vê como dona do Estado, como dona do Brasil. Foram criados mecanismos contra a corrupção, durante os governos Lula e Dilma, com reforço da estrutura da Polícia Federal, a Corregedoria Geral da União, o Ministério Público, além das leis de transparência e responsabilidade fiscal. Mas o governo atual trabalha com sigilos de cem anos para esconder irregularidades e orçamentos secretos que envolvem bilhões de reais ...
Por último, mas não menos importante, temos a questão ambiental, que nos afeta a todos e todas, mas não da mesma maneira. Quem sofre mais, diretamente, com a destruição das florestas são os povos originários e tradicionais. Quem sofre mais diretamente com as mudanças climáticas são os camponeses, as mulheres e outras pessoas negras e pobres que vivem em áreas que são alagadas, sujeitas a desmoronamentos, à falta de água e saneamento, a desastres ambientais.
Qual o candidato que tem propostas no sentido de resolver estas questões, que propõe políticas educacionais, de saúde, de combate às violências e à corrupção, ao racismo e violências de gênero, de luta contra a fome? Que propõe a fiscalização ambiental e a preservação da natureza, a demarcação de terras indígenas e quilombolas? Por que pessoas conscientes votariam em alguém que despreza a ciência e a tecnologia, que tem atitudes e discursos violentos contra as mulheres, as pessoas LGBTQIA+, racistas, xenofóbicos? Alguém que apoia o armamento generalizado e a destruição das florestas, que não pretende demarcar nem um centímetro de terras indígenas? Que é contra a reforma agrária? Que está ligado à milícia? Que tem como herói um torturador e nega a história?
Neste momento tão grave que vivemos, não há realmente escolha. Temos que votar na candidatura que propõe soluções, respostas, alternativas para a desigualdade social e suas consequências nefastas. Lula Presidente! #13.
Cristina Scheibe Wolff, historiadora, feminista, professora da UFSC.
Florianópolis, 18 de outubro de 2022.
Cristina Scheibe Wolff é professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, integrante do Laboratório de Estudos de Gênero e História (www.legh.cfh.ufsc.br) e editora da Revista Estudos Feministas.
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